O diagnóstico de cancro do ovário é feito com a conjugação de dados clínicos (histórico de sintomas e exame objetivo), dados laboratoriais (análises sanguíneas), imagiológicos e anatomo-patológicos.
Clínica:
A abordagem diagnóstica deve ser feita, tendo como base uma história clínica cuidadosa. A sintomatologia do cancro do ovário é inespecífica ou mesmo ausente nos estádios iniciais. Numa fase inicial, podem surgir sintomas inespecíficos como sensação de peso/dor pélvica, náuseas, diarreia/obstipação, polaquiúria/urgência miccional ou metrorragias/ alteração do ciclo menstrual. Numa fase mais avançada da doença, quando a massa tumoral atinge grande volume, quando está presente carcinomatose peritoneal ou ascite, podem surgir sintomas como aumento do volume abdominal, sensação de enfartamento, dor abdominal ou emagrecimento. Se existir derrame pleural ou metastização pulmonar, pode surgir sensação de dispneia ou outros sintomas respiratórios.
Na história clínica também devem constar eventuais fatores de risco, nomeadamente história ginecológica e reprodutiva, assim como antecedentes familiares oncológicos.
Após a realização de uma história clínica pormenorizada, deverá ser feito um exame físico geral, que inclua um exame ginecológico.
Análises laboratoriais:
Perante uma suspeita de neoplasia do ovário, deve ser determinado o marcador tumoral Ca 125 (valor normal < 35 U/ml). Este marcador, medido através de uma análise sanguínea, está aumentado em cerca de 83% dos cancros do ovário. No entanto, não é específico para este tipo de neoplasia, podendo estar elevado em pessoas com outros tipos de cancro e em mulheres com outras doenças ginecológicas não malignas, como endometriose, gravidez, doença inflamatória pélvica, entre outras.
Imagiologia:
- Ecografia ginecológica transvaginal: No estudo imagiológico de uma massa pélvica, a ecografia ginecológica transvaginal ocupa o primeiro lugar na sequência de exames a realizar. Neste exame, o médico insere uma sonda na vagina, possibilitando uma imagem mais clara dos ovários, permitindo avaliar o tamanho, forma e outras características específicas que estão associadas ao cancro do ovário.
- Tomografia axial computorizada abdomino-pélvica: Perante uma imagem suspeita de lesão maligna detetada em ecografia, este exame permite avaliar a extensão tumoral, identificar doença irressecável e excluir doença metastizada.
- Ressonância magnética pélvica: Apesar da ecografia conseguir diferenciar a maioria das lesões anexiais, existem lesões cuja natureza não consegue ser determinada por esta técnica. A ressonância magnética convencional apresenta um papel fundamental na avaliação destas lesões, sendo uma técnica mais específica. O recente acréscimo de sequências funcionais à ressonância convencional (perfusão e difusão) veio permitir uma acuidade de 91-98% na caracterização de lesões anexiais. A ressonância magnética deve ser feita com intuito de avaliar pré-cirúrgicamente a ressecabilidade do cancro do ovário nas doentes jovens, na gravidez ou se existe contraindicação para a administração de contraste iodado endovenoso.
- Radiografia torácica/ tomografia axial computorizada torácica: Estes exames permitem verificar se existem metástases nos pulmões ou presença de derrame pleural (líquido nos pulmões). Se existir derrame pleural, deverá ser efetuada uma toracocentese diagnóstica (retirar um pouco desse líquido para análise citológica), uma vez que tem implicações no estadiamento e respetiva orientação terapêutica.
- Avaliação endoscópica digestiva: Com o objetivo de avaliar se existe envolvimento do trato gastrointestinal, o médico poderá recorrer a uma colonoscopia, em que um colonoscópio (tubo fino, flexível e com uma câmara) é inserido no ânus, percorrendo todo o cólon e captando imagens do mesmo. Quaisquer áreas que não tenham um aspeto normal serão biopsiadas.
Anatomia-Patológica
A única forma de verificar se uma massa é, de facto, cancro é a partir da remoção de uma amostra de tecido e da sua avaliação microscópica. Este procedimento é chamado de biópsia. No caso do cancro do ovário, a biópsia é normalmente feita durante a cirurgia para remoção do tumor. Nos casos em que o tumor esteja num estádio demasiado avançado para ser removido, poder-se-á proceder a uma biópsia antes do tratamento. Nestas situações, uma agulha fina é inserida a partir da parede abdominal, aspirando uma amostra de tecido que será, posteriormente, analisado.
Estadiamento
A classificação do cancro do ovário quanto ao seu estádio (estadiamento) reflete o tamanho e localização do tumor, assim como se existe envolvimento ganglionar ou metastização à distância. Para o cancro do ovário é usado o estadiamento da FIGO.
O estadiamento do cancro do ovário é cirúrgico, à exceção da doença considerada irressecável (por critérios radiológicos ou laparoscópicos) ou se houver contra-indicação cirúrgica. A cirurgia de estadiamento compreende a colheita de líquido ascítico, anexectomia bilateral, histerectomia total, omentectomia infracólica, biópsias peritoneais, citologia das cúpulas diafragmáticas e linfadenectomia pélvica bilateral e lombo-aórtica. No final da cirurgia deve ser registada se ficou eventual doença residual. Todo o material recolhido durante a cirurgia deve ser analisado por anatomia patológica.
Estadiamento da FIGO:
Estádio I – Tumor limitado aos ovários ou trompas | IA – Tumor limitado a um ovário (cápsula intacta) ou trompa, ausência de tumor na superfície ovárica ou tubária, ausência de células malignas na ascite ou lavado peritoneal. |
IB – Tumor limitado a ambos os ovários (cápsulas intactas) ou trompas, ausência de tumor na superfície ovárica ou tubária, ausência de células malignas na ascite ou lavado peritoneal. | |
IC – Tumor limitado a um ou ambos ovários ou trompas com qualquer um dos seguintes:
IC1 – Rotura intraoperatória |
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Estádio II – O tumor envolve um ou ambos ovários ou trompas com extensão pélvica (abaixo do anel pélvico) | IIA – Extensão e/ou implantes no útero e/ou trompas e/ou ovários |
IIB – Extensão a outros tecidos pélvicos intraperitoneais | |
Estádio III – O tumor envolve um ou ambos os ovários, ou trompas, com disseminação peritoneal comprovada citologicamente ou histologicamente para o peritoneu fora da pelve e/ou metastização ganglionar retroperitoneal | IIIA – Metastização para os gânglios retroperitoneais com ou sem envolvimento peritoneal microscópico além da pelve
IIIA1 – Apenas gânglios retroperitoneais positivos (confirmados citologicamente ou histologicamente) IIIA2 – Envolvimento peritoneal extrapélvico microscópico (acima do anel pélvico) com ou sem metastização ganglionar retroperitoneal |
IIIB – Metástases peritoneais macroscópicas além do anel pélvico com maior dimensão ≤ 2 cm, com ou sem metastização dos gânglios retroperitoneais | |
IIIC – Metástases peritoneais macroscópicas além do anel pélvico com maior dimensão > 2 cm, com ou sem metastização dos gânglios retroperitoneais | |
Estádio IV – Metastização à distância excluindo a peritoneal | IV A – Derrame pleural com citologia positiva |
IV B – Metastização para órgãos extra-abdominais |
PT-KEY-00264 05/2020